"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

27.3.09

Quero ser Pedro Almodovar

Não quero ser John Malkovich. Quero ser Pedro Almodovar. Sou sua fã desde Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, mas nunca consegui explicar o que me seduz em seus filmes. Várias vezes tentei verbalizar o que tanto me atraiu em Ata-me, Carne Trêmula, Tudo sobre minha Mãe e Fale com Ela, mas sempre achei difícil traduzir em palavras o fascínio que estas obras me provocam. Até que, em vez de assistir a Pedro Almodovar, resolvi ler Pedro Almodovar. De repente, entendi a razão do meu bloqueio. O livro, chamado Fogo nas Entranhas, foi escrito por ele em 1981, quando estava encerrando sua carreira de diretor de filmes pornôs. É uma novelinha rápida. Tão rápida quanto absurda. Não faz o menor sentido. Rápida, absurda, sem sentido... Quero me chamar Carmencita se eu não acabo de descrever a vida. Almodovar é puro nonsense, e isso é encantador, é um alento nesse mundo onde tudo tem que ser ordenado, catalogado, explicado. Teorizar sobre Almodovar é um desperdício de tempo. Ele está além dos rótulos de brega ou chique, comédia ou drama, arte ou embromação. Sentimentos não têm estilo definido. São ilógicos por natureza.
Por que não podemos dizer "te amo" para um cara que conhecemos há cinco minutos? Por que não podemos nos tornar a melhor amiga de uma estranha? Qual o problema em combinar verde com roxo? E de transarmos com um denlinquente, se ele for a cara do Antonio Banderas?
A gente procura o sentido da vida em tudo: nos livros, na religião, nos índices da Nasdaq. A gente quer um porquê. Almodovar vem e diz: não tem porquê. Ou melhor, não tem só um. A vida é uma salada de emoções, piadas, lágrimas, sexo, pileques, encontros em elevadores, desencontros em aeroportos. A vida não é tão arrumadinha quanto a gente gostaria: é um caleidoscópio. Colorida. Disparatada. Engraçada. Trágica. Inquieta. Indecente. A vida é latina.
O livro, em si, não é lá grande coisa. Uma bobajada, pra falar a verdade. Mas não é a história que interessa. É o exercício de criação, a movimentação dos personagens, a recusa em estabelecer parâmetros de comportamento. À medida que a leitura avança, a gente vai ficando cada vez mais liberado pra rir e pra admitir que as coisas podem ter coerência, mesmo prescindindo de uma interpretação.
Vale para a música, para as artes plásticas, para o teatro: não é preciso dominar teoria para se entusiasmar, não é preciso entender com o cérebro, pode-se - e deve-se - entender com o espírito. Finalmente caiu a ficha: eu gosto de Pedro Almodovar por instinto.
imagem . Todo sobre mi madre, de Pedro Almodovar, Espanha, 1999 texto . Alguma Coisa, Martha Medeiros, Revista OutraCoisa, Junho / 2004

26.3.09

Segredos & Mentiras

" - Você ficou abalada?
- Não. Apenas olhei para as nuvens..."
texto & imagem . Secrets and Lies, de Mike Leigh, Inglaterra / França, 1996

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25.3.09

A Dança dos Vampiros

"Devo confessar que quase não conheço a luxúria. Todos estes anos correndo. Subindo morro, descendo morro, discutindo com débeis mentais, tentando convencer um monte de idiotas. E as despesas? Despesas intermináveis."
imagem & texto . The Fearless Vampire Killers, de Roman Polanski, Inglaterra, 1967

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19.3.09

candy

"E eis aqui o segredo mais profundo que ninguém conhece Eis a raiz da raiz e o broto do broto e o céu do céu de uma árvore chamada vida Que cresce mais do que a alma pode esperar ou a mente esconder e esta é a maravilha que mantém as estrelas distantes Carrego seu coração comigo Carrego-o no meu coração."
imagem & texto . Candy, de Neil Armfield, Austrália, 2006

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12.3.09

21 gramas

"? Cuántas vidas vivimos ? Cuántas veces morimos ? Dicen que todos perdemos 21 gramos en el momento exacto en que morimos. Todos. ? Y cuánto cabe en 21 gramos ? Cuánto se pierde ? Cuándo perdemos 21 gramos ? Cuánto perdemos con ellos ? Cuánto ganamos ? Cuánto ganamos ? 21 gramos. El peso de cinco moedas de 5 centavos. El peso de un colibrí. Una tableta de chocolate. ? Cuánto pesan 21 gramos ? A María Eladia, pues cuando ardió la pérdida reverdecieron sus maizales."
imagem & texto . 21 grams, de Alejandro González Iñárritu, EUA, 2003

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9.3.09

Garota, Interrompida

"Você já confundiu um sonho com a realidade ou roubou algo quando tinha dinheiro para comprar? Já se sentiu triste ou achou que o trem andava quando ele estava parado? Talvez eu fosse louca mesmo. Talvez fossem só os anos 60. Ou talvez eu fosse só uma garota interrompida." imagem & texto . Girl, Interruptedde James Mangold, EUA, 1999

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4.3.09

A vida é um filme inverossímil

Engraçado como às vezes temos a sensação de que determinado momento que vivemos parece ter saído de um filme ou alguma ficção. Aqueles momentos que depois de recordados nos fazem duvidar da imparcialidade da memória. Parece lógico que quando um desses absurdos acontece - em qualquer sentido, o da perfeição, do inesperado, do improvável - nós o vejamos como um um momento "cinematográfico", mágico. Mas há aí um paradoxo: justo esses momentos irreais se postos em um filme por exemplo se tornariam exagerados, piegas, desnecessários, inaceitáveis. Por que? Porque, ao contrário das ficções que geralmente se apresentam, a realidade é por demais inversossímil. Mas essa inverossimilhança não é a dos super-poderes, super-vontades ou a da lógica dos acontecimentos. É a dos sentidos. Verossímil é aquilo que parece ser verdade, e isso a realidade jamais nos garantiu.
Por isso a ficção que se propõe realista ou naturalista [e se apoia em um enigma ou resolução de charada] parece cair na armadilha de ter que ser justo aquilo que a realidade não é: verossímil. Aquilo que vimos, ainda que fatos concretos, é apenas uma perspectiva e nunca pode ser chamada de realidade. Assim toda tentativa de mimetizar a "vida real" se fecha em esquemas lógicos que acabam entre uma firula vaidosa e um insulto à inteligência. Sem abertura e incompletude a obra vira um desconvite, um passatempo.
Não se trata de não saber o que se quer dizer na obra e entregá-la inacabada aos outros pra que a terminem mas de deixar que a poesia seja veículo da mensagem para que nela haja espaço suficiente para caber interpretações imprevistas. A realidade é inconclusa, e por isso só a poesia e suas lacunas é capaz de a espelhar. Esses espaços abertos pela poética generosa funcionam como espelhos imprevisíveis e igualmente generosos que fazem da obra de arte um oráculo. Eis a potência maior da arte: refletir de volta aquilo que demos à obra, o nosso olhar. E essa é a imagem mais oculta e impenetrável de nós mesmos. Assim podemos nos ver a distância e descobrir quem, a partir de então, já não somos. A arte é um atalho para os oráculos da vida. Na poesia buscamos sentido porque acreditamos haver algum. Eis o que deveríamos fazer em relação à vida.
texto . Rodrigo Amarante
PEQUENO PERFIL DO CIDADÃO: nome_Rodrigo Amarante idade_31 o que faz_Música, filmes quase mudos e gravuras o que fez_Artigo de Música música_Pombo Correio, de Moraes Moreira cidade_Rio de Janeiro filme_Sonhos, de Akira Kurosawa prato_Bacalhau à Gomes de Sá esporte_surfe

3.3.09

Paranoid Park

"Se Capricórnio fosse Câncer,
Se Califórnia fosse França,
A rampa que lança o skate aos céus seria nosso chão.
- Humberto Gessinger -
Ninguém está preparado para um parque tão paranóico. Qual castigo para qual crime? Por acidente auto-absolvição. Em câmera lenta para prender a atenção ao estertor do extremo e deixar o espectador de mente dispersa boquiaberto - por favor, sem intervalos comerciais!: banho de água fria.
imagens . Paranoid Park, de Gus Van Sant, EUA, 2007
resenha (?) matheus matheus

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2.3.09

Estorvo

"; como são noturnos certos cheiros e ruídos: como há bichos noturnos e flores que não se abrem de dia, como há pensamentos tão claros que só a noite se percebem."
imagem . Estorvo, de Ruy Guerra, Brazil, 2000 texto . Estorvo, de Chico Buarque, Brazil, 1991

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