"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

30.4.06

trecho#10

"Na verborragia do verso que estoura o limite de ânsias há um disquite que a metáfora não alcança. Saindo as palavras por uma porta e a vida por outra."

XICO SÁ

16.4.06

pastilhas coloridas

"Os sonhos murcham feito maracujá velho" Quando eu vim morar na Ilha Grande Meu prédio era o only one da rua Mas uns moleques já brincavam de trocar Pastilhas coloridas Nossos campos de pelada de repente sumindo E as mesadas diminuindo Nossos pais na pressão Desemprego em massa A vizinhança gravando direto E a marcação cerrada Dos prestativos Mas nem sempre gentis homens da lei Amigos nas farmácias E quando a erva faltava Qualquer droga era boa As verdes valem dez As amarelas oito As brancas valem cinco Mas se dá bem quem tem azul (quem azul tem tudo) Os ratos engordando dia-a-dia Com os nossos sonhos podres E a gente inventando regras Para sobreviver na Ilha Grande Pois o continente parecia muito longe E talvez não houvesse lugar para nós No mundo livre Amigos nas farmácias E quando a erva faltava Qualquer droga era boa Qualquer droga era boa Qualquer droga era boa Qualquer droga era boa MUNDO LIVRE S/A Ahhhhhhhhhhh... Um dia ainda conheço a Ilha Grande. A música do Mundo Livre é farta massa testosterônica e subversiva. Recentemente fui a um show da Orquestra Manguefônica (Nação Zumbi + Mundo Livre S/A cantando Da Lama ao Caos) e pirei. Os pontos altos foram RisoFlora, uma versão para London Calling do Clash e Soy Loco por ti, Sol. Pastilhas Coloridas (acima) eu dedico para meus amigos farmacêuticos Fabão e Daniel, para Raquel (futura farmacêutica) e para Fábio Staley, que tem muuuuuuuuuuuitos amigos nas farmácias. E salve ZEROQUATRO, salve!!!!

retratista

eu já perdi você de vista tua alma meu deus levou agora só resta uma foto que o retratista deixou se o teu perfume exala rosa sexta-feira é dia de oxalá pra animar meu peito chora e ora e ora ser orar meditação esse samba vem e a paz chora e ora e ora não vá ceder permanecer ilude não vá ceder permanecer ilude eu já perdi você de vista tua alma meu deus levou agora só resta uma foto que o retratista deixou agora só resta uma foto que o retratista deixou (se teu perfume exala rosa) sexta feira é dia de oxalá.

Pupilo . bateria
Serginho Carvalho . baixo
Zé Gonzales . scratch
Apollo 9 . moog, guitarra, rodhes
OTTO . letra, música, vocal e electribe
Maria Paula . vocal
Quando CaroL me contou que Rafael tinha falecido, esta música do Otto estava saindo da minha televisão. Eu não sei se Rafael gostava ou, até mesmo, conhecia o trabalho do Otto, mas a verdade é que sempre que ouço essa música me lembro desse meu amigo. Já faz quase um ano que fomos privados de conviver com ele. Há um tempo atrás minha amiga Raquel, que é retratista, me descolou uma foto de Rafael. Esta foto desapareceu misteriosamente. Há umas três semanas atrás conheci uma menina muito simpática e bonita chamada Vanessa, que também sentiu com tristeza a morte dele. Vanessa me presenteou com uma foto do anarquista fazendo o sinal de paz e amor - o sorriso aberto como sempre, o jeito acanhado e ao mesmo tempo sedutor. Esse post é para agradecer à Vanessa pela foto e pelas lembranças. Valeu mesmo. (mais sobre O Anarquista no post de 08/12/005)

11.4.06

20 anos blue

Ontem de manhã quando acordei Olhei pra vida e me espante iEu tenho mais de vinte anos Eu tenho mais de mil perguntas Sem respostas Estou ligada num futuro blue Os meus pais nas minhas costas As raízes na marquise Eu tenho mais de vinte muros O sangue jorra pelos furos Pelas veias de um jornal Eu não te quero, eu te quero mal Essa calma que inventei, bem sei Custou as contas que contei Eu tenho mais de vinte anos E EU QUERO AS CORES E OS COLÍRIOS MEUS DELÍRIOS Estou ligada num futuro blue letra & música . sueli costa esta canção ficou eterna na voz da querida baixinha Elis Regina

e o vento levou

Um minuto pra pensar Que a vida leva e tráz O que eu faço ela desfaz Pensamentos são como ladrões Me roubando tempo Levam minha paz Pois todo mundo está só Pra saber o que é bom O ruim e o tanto faz Às vezes não quero escolher E as pessoas vão dizer Que eu vivo de ilusão Vou desaparecendo Mas estou sempre lá Sei que por um momento Fujo sem sair do lugar Um segundo pra esquecer Tudo que me apraz E não tenho mais Pensamentos são como ladrões Me roubando tempo Levam minha paz Pois todo mundo está só Pra saber o que é bom O ruim e o tanto faz Às vezes não quero escolher E as pessoas vão dizer Que eu vivo de ilusão letra . fernanda takai & john
imagem . o filme que dá título ao post e à música do pato fu

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8.4.06

a vertigem

Mas nossa vida é assim como uma fábula anormal que fosse adaptada para um moderno e estarrecedor longa metragem kubrickiano. Cheia dos imprevistos do acaso amigo - imprevistos desastrosos com ar de tragédia acompanhados de doudas gargalhadas. O sol como holofote ofuscando a vista, fazendo brotar gotas de suor na testa. A lua a nossa delicada e elegante luminária. E caminhamos desastrados por essa estrada generosa ao nos entregar beleza, incondicional ao nos oferecer terror. Distraímo-nos por esses caminhos tortuosos. Enfrentamo-nos como se fosse um lazer. São esse ambientes mais difíceis, corrosivos, cenários grandiosos de cor sinistra e gritante que nos dão o gosto do assombro, da ventura e do prazer. texto . matheus só sobre . ana imagem . laranja mecânica de stanley kubrick

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5.4.06

ELAEU

Sim. Começo com um sim porque já é uma aceitação: estou entendendo algo a minha moda.
Olhando o horizonte com aquele semblante ingênuo de estar perdido mas com certa amargura. Aquela amargura de conhecer bem, já de muitos carnavais, traços doces e modos corrosivos. Um pouco estabanado e ao mesmo tempo com gestos calculados, repetidos diversas vezes com escrúpulos. Me recordo desde que o conheci. Sempre vários gestos.
Carregando aquela expressão cheia. De rosa pouco depois de passar de botão à rosa e pouco antes de desfalecer. Conservando aquele ar de dignidade: olhar ao longe vendo além - ultrapassando objetos parece ultrapassar o sentido.
Como sempre impondo um cigarro em seu palco (Esta cena tão peculiar de seu dia-a-dia.) Misturando o glamour de diva ao ar enigmático e pesado de velha cigana em cores definhadas, melancólicas, exibindo toda a vivacidade gasta - porém bem pulsante. Cigana velhaca, cheia dos macetes, escondendo as cinzas sob sob sob sob sob o tapete.
- É a minha vida! - dizia. Esplanando com as mãos no ar. Ar de poeta. Ar de imperador. De certo um bruxo tomando a vida dos que o cercam: uma vez em ti já não o mesmo. Toca com a ponta dos dedos o jardim, a selva inalcançável a olhos comuns, mas com rosto de mármore lhe bate a face com suas gélidas lâminas. Quem nunca sentiu esse veneno mórbido e desumano?
Mas quem imaginaria um amigo desvelado trancando os seus embustes a sete chaves? Menino de natureza difícil. Viajando em seres desconhecidos e intocáveis em seus universos. Qual essência? Qual poder? Homem indomável solto sobre infinitos campos verdejantes a voar. Ultrapassando cercas e muros. Criando cercas e muros.
Eis aí, como em tudo, o tudo que não enxergo. O que não explico. Não se pode pôr em forma alguma. É muito expansiva e livre. Mesmo preso a tudo me escapa o que os olhos vêem, o que o coração sente. Vejo algo, longe na escuridão. Brilha como molécula e parece dançar. Destaca-se na escura solidão sua luz glamourosa. Veja!... Não se pode tocar. Homogênio? Heterogênio? Gênio? Não tem molde. Parece brincar. Não se sabe ao certo. E fico aqui. Nessa distante contemplação.
este texto rebuscado não fui eu quem escrevi. a autora é uma grande amiga minha que escreve horrores de beleza embora pareça não acreditar muito em suas letras. como ela não quer mídia em torno dela pediu que eu não a identificasse, por isso citarei apenas seu primeiro nome que é bem comum: ANA. Esse texto ela fez para mim, o que me deixou muito muito muito orgulhoso. nem eu sabia que tinha tanto glamour. resolvi postar para que as pessoas tenham uma visão de mim feita por uma pessoa muito próxima e querida. eu adorei, principalmente a parte da cigana velhaca. pois é: sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher.

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3.4.06

EU

Estou para mim como estou para o resto do mundo: perplexo. As coisas que procuro estão nos lugares em que as coloquei. As pessoas que conheço estão espalhadas numa estrada. As coisas e as pessoas são as coisas e as pessoas. Exteriores. Eu recebo o que nelas encontro. Me identifico, me contrario, me descubro. O amor me visita. O prazer me visita. Envelhecerei e terei a pele mais gasta pelo tempo. Os outros continuarão a me cobrar um nome e um perfil e números, continuarão a me assaltar, a me encontrar, a me perder. Maior que tudo isso é o meu templo que tranco e não dou a chave a ninguém: EU além dos meus sapatos sujos e furados.

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1.4.06

trecho#9

"Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito. Tenho me fatigado tanto todos os dias vestindo, despindo e arrastando amor, infância, sóis e sombras."
Hilda Hilst