"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

12.11.08

O Albatroz

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam de um albatroz, enorme ave do mar,
Que segue, indolente companheiro de viagem
O navio no abismo amargo a deslizar.
E por sobre o convés, mal estendido apenas,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Asas que enchem de dó, grandes e de alvas penas,
Eis que deixa arrastar como remos ao lado,
O alado viajante tomba como num limbo!
Hoje é cômico e feio, ontem tanto agradava!
Um ao seu bico leva o irritante cachimbo,
Outro imita a coxear o doente que voava!
O poeta é semelhante ao príncipe do céu
Que do arqueiro se ri e da tormenta no ar;
Exilado na terra e em meio do escarcéu,
As asas de gigante impedem-no de andar.
texto . O Albatroz, de Charles Baudelaire in Les Fleurs du Mal, tradução de Pietro Nassetti
imagens . Un Long Dimanche de Fiançailles, de Jean-Pierre Jeunet, França, 2004

7.11.08

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Antes era o som
Menino inocente aprendendo a ser bonito com o silêncio
Época distante essa:
Livros eram mágicos
Indústrias eram novidade
E nada, nada mesmo!, era mais completo que o som gutural e delicado do francês

Pra que descascar batatas
Ou afinar instrumentos?
Um mundo perfeito nos oferece batatas que pulam nas bocas e sanfonas que cantam sozinhas!
Limpa é a terra molhada, depois da chuva
A alma transborda em Montmartre
Inteira e desengonçada, a poesia invade cada miocárdio
Não existem pedaços de poesia

imagem . Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, França, 2001
fonte da imagem . www.ocaradalocadora.com.br
acróstico nefelibata . Ana F.
outro texto nefelibata sobre um fabuloso destino em www.palavrassorteadas.zip.net

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