"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

30.6.06

leve

Não me leve a mal Me leve à toa pela última vez A um quiosque, ao planetário Ao cais do porto, ao paço O meu coração, meu coração Meu coração parece que perde um pedaço, mas não Me leve a sério Passou este verão Outros passarão Eu passo Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça Da sua cortiça Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim? Pense como eu vim de leve Machuquei você de leve E me retirei com pés de lã Sei que o seu caminho amanhã Será um caminho bom Mas não me leve Não me leve a mal Me leve apenas para andar por aí Na lagoa, no cemitério Na areia, no mormaço O meu coração, meu coração Meu coração parece que perde um pedaço, mas não Me leve a sério Passou este verão Outros passarão Eu passo Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça Da sua cortiça Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim? Pense como eu vim de leve Machuquei você de leve E me retirei com pés de lã Sei que o seu caminho amanhã Será um caminho bom Mas não me leve O meu coração, meu coração Meu coração parece que perde um pedaço, mas não Me leve a sério Passou este verão Outros passarão Eu passo

LETRA & MÚSICA . CHICO BUARQUE CARIOCA

28.6.06

ATRÁS DA PORTA

Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei, eu te estranhei Me debrucei sobre teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos Nos teus pelos, teu pijama Nos teus pés ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que ainda sou tua Só pra mostrar que inda sou tua
CHICO BUARQUE

TATUAGEM

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem Que é pra te dar coragem pra seguir viagem Quando a noite vem E também pra me perpetuar em tua escrava Que você pega, esfrega, nega, mas não lava Quero brincar no teu corpo feito bailarina Que logo se alucina, salta e te ilumina Quando a noite vem E nos músculos exaustos do teu braço Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço Quero pesar feito cruz nas tuas costas Que te retalha em postas mas no fundo gostas Quando a noite vem Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva Marcada a frio, ferro e fogo Em carne viva Corações de mãe, arpões Sereias e serpentes Que te rabiscam o corpo todo Mas não sentes
CHICO BUARQUE & RUY GUERRA

23.6.06

POEMA

Muere lentamente quien no viaja, quien no lee, quien no oye música, quien no encuentra gracia en sí mismo. Muere lentamente quien destruye su amor propio, quien no se deja ayudar. Muere lentamente quien se transforma en esclavo del hábito repitiendo todos los días los mismos trayectos, quien no cambia de marca, no se atreve a cambiar el color de su vestimenta o bien no conversa con quien no conoce. Muere lentamente quien evita una pasión y su remolino de emociones, justamente estas que regresan el brillo a los ojos y restauran los corazones destrozados. Muere lentamente quien no gira el volante cuando esta infeliz con su trabajo, o su amor, quien no arriesga lo cierto ni lo incierto para ir detrás de un sueño quien no se permite, ni siquiera una vez en su vida, huir de los consejos sensatos... ¡Vive hoy! ¡Arriesga hoy! ¡Hazlo hoy! ¡No te dejes morir lentamente! ¡No te impidas de ser feliz! . Pablo Neruda .

FUTUROS AMANTES

Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar E quem sabe, então O Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos Sábios em vão Tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você LETRA E MÚSICA . CHICO BUARQUE

16.6.06

dura na queda

perdida na avenida canta seu enredo fora do carnaval perdeu a saia perdeu o emprego desfila a natural esquinas mil buzinas imagina orquestras samba no chafariz VIVA A FOLIA A DOR NÃO PRESTA felicidade sim o sol ensolarará a estrada dela a lua alumiará o mar a vida é bela o sol a estrada amarela e as ondas as ondas as ondas as ondas o sol ensolarará a estrada dela a lua alumiará o mar a vida é bela o sol a estrada amarela e as ondas as ondas as ondas as ondas bambeia cambaleia é dura na queda custa a cair em si largou família bebeu veneno e vai morrer de rir vagueia devaneia já apanhou a beça mas pra quem sabe olhar a flor também é ferida aberta e não se vê chorar o sol ensolarará a estrada dela a lua alumiará o mar a vida é bela o sol a estrada amarela e as ondas as ondas as ondas as ondas o sol ensolarará a estrada dela a lua alumiará o mar a vida é bela o sol a estrada amarela e as ondas as ondas as ondas as ondas esta música virou hit dentro do meu quarto e faz parte do novo disco do Chico Buarque. sempre que a ouço penso em uma grande amiga louca chamada Maria Gabriela.

1.6.06

veredas: Ser tãO grande

"Coração da gente - o escuro, escuros."
João Guimarães Rosa

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O País do Carnaval

"O Brasil continuou o mesmo. Não melhorou, nem piorou. Feliz Brasil que não se preocupa com problemas, não pensa e apenas sonha em ser" "O Comunismo é bonito em teoria... Na prática, um fracasso. Igualdade, igualdade... Depois os operários que governam a surrar o povo... É isso o comunismo na prática." "A Pátria é o lugar onde o homem, pobre animal inferior, encontra com que se alimentar e onde dorme com uma mulher ou com outro homem, conforme sua preferência." "A felicidade reside na própria infelicidade, na insatisfação. Essa insatisfação, essa dúvida, o ceticismo é que dever ser a Filosofia do homem de talento. Sofismar sempre. Negar quando afirmarem, afirmar quando negarem. O fim de não ter fins." "Depois, tédio... A mesma coisa, sempre. A Terra a girar em torno do Sol 365 dias. Um dia, outro dia. A Terra a girar sobre si mesma em 24 horas. Dia. Noite. Sempre a mesma coisa. A maior tragédia: a tragédia da monotonia..." O País do Carnaval é o primeiro livro de Jorge Amado, e merece ser lido, entre outras coisas, porque é político sem ser chato nem panfletário, e muito crítico sem ser tedioso. Como já dizia o escritor baiano: Pra ser literatura não pode ser literatice.