"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

9.11.15

A Estrada


Cá estou eu, mais uma vez me expondo para quem quiser conferir. Ferido de vida num campo de batalha vão, como é vão todo campo de batalha. O tanto que apanhei me ensinou a não errar, mesmo não simpatizando com o acerto. Eu, clown. Uns anos mais velho, mal disfarçados pela pesada maquilagem.

Subversivo? Respondam-me vocês. Menos óbvio, um pouco inerte. Felino até. Subjetivo, sem sombra de dúvidas. Deslocado. Tresloucado. Sem paciência para fazer a social. Seja breve. Sem filtro. Sem lente. Sem classificação indicativa. E, ainda assim, com olhos frescos, ainda que fatigados pelo muito que contemplaram até aqui.

Texto . Matheus Matheus
Imagem . La Strada, de Federico Fellini, Itália, 1954

2.11.15

Eu Sou O Senhor do Castelo


Se as coisas não estiverem andando da forma como você planejou, simule um desmaio. Até o pior passar, não se mova para não ser descoberto. Tá calor demais, não comi direito hoje, os mosquitos me incomodam, já andamos muito, estou com sede, temos pouca água, estou cansado, devíamos ter voltado daquele ponto em que ainda sabíamos como retornar - frases que sempre funcionam ao preceder o ápice da cena.

Viver é atuar. E atuar, vezenquando, significa não ter fala nem gesto - fingir-se de morto. Vezenquando o silêncio, a ausência, dizem muito, dizem mais que grito. E, se não dizem, é porque não há nada mesmo ainda a ser dito.

Quando "acordar", 'cê vai ver: tudo estará melhor, quase resolvido.

texto . Matheus Matheus
imagem . Je suis le Seigneur du Château, de Régis Wargnier, França, 1989