"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

31.12.05

trecho#6

"Você é roubar manga com os moleques no quintal." .raul seixas in mata virgem.

30.12.05

sex, drugs & blues

"Hipsters!!! Dizem que querem salvar o mundo mas cheiram mal e só sabem fumar maconha." (Eric Cartman in South Park) Pra quem ainda não percebeu, o Eric é um junkie em constante cold turkey. Por sua arrogância, acidez e ceticismo, é o meu personagem preferido do desenho que a MTV Brasil não deveria ter parado de passar. "Hipsters" é o termo pejorativo que os beatniks usavam para se referir aos hippies, menosprezando-os. Uma vez perguntado sobre o movimento peace and love (que teria surgido, entre outras influências, da leitura de livros beat), Willian S. Burroughs respondeu: "Nós não somos os pais deles." Saudações à contracultura regada a sex, drugs & blues, que nunca esteve catalogada na classe dos movimentos de massa, e muito menos se submeteu a qualquer tipo de ortodoxia, regra, métrica ou bicho grilismo. !!!conheça os junkies vilipendiados!!! pra ler: .howl de allen ginsberg .on the road de jack kerouac .junky de willian s. burroughs (estas obras podem ser facilmente encontradas por dois ou três reais em sebos. em livrarias, principalmente junky e howl, são mais caros e mais raros) pra ver: .trainspotting de danny boyle .eu, cristiane f., 13 anos pra ouvir: .bob dylan (qualquer um das décadas de 60/70) .nirvana bleach .billie holyday (a maioria dos discos dela ainda não foi editada em cd no brasil, mas alguns títulos podem ser encontrados como raridades em sebos de discos)

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29.12.05

trecho#5

Dos Amigos que se foram. Dos poemas & músicas que não se calaram. Diego Navarro in Dias Escondidos

28.12.05

NATAL

Nasce um deus. Outros morrem. A verdade nem veio nem se foi: o erro mudou. Temos agora uma outra eternidade, e era sempre melhor o que passou. Cega, a ciência a inútil gleba lavra. Louca, a fé vive o sonho do seu culto. Um novo deus é só uma palavra. Não procures nem creias: tudo é oculto. poema de Fernando Pessoa

22.12.05

nação

Neste ano de gordas atrações gringas, os três melhores shows que assisti foram brazucas - sem falso nacionalismo nem rasgação de seda - pra quê desperdiçá-la? Em julho, o Pato Fu fez show de lançamento do tão esperado disco com direito a robô fofinho comandado pela Fernanda cantando Simplicidade, A Musiquinha da Unimed e uma versão mais crua de Capetão. Faltou foi Noite Enluarada (trilha sonora do filme A Pessoa é para o que Nasce) e, como sempre, O peso das Coisas (Maria e Gabriel). Mas compensou. Aliás, Toda Cura Para Todo Mal, o show, ganhou o prêmio de melhor show de música popular da APCA recentemente. Los 4 Hermanos, em outubro, mandaram todas as músicas complexas e agridoces do mais novo álbum. Destaque para a visionária Horizonte Distante, a melancólica É de lágrima e para O vento triste e contagiante. O melhor momento continua sendo a performance inusitada e sincera de Rodrigo Amarante em "Quem Sabe?". O recinto em que aconteceu o show tava bem quente mas também valeu a pena. E neste mesmo dezembro em que vos escrevo assisti pela primeira vez a um show da Nação Zumbi. Apesar da qualidade de Propagando não dá pra ter idéia de como eles evoluem a cada riff/batida de tambor/sample. Com respeito e dignidade deixam bem claro que são uma banda independente dos trabalhos lançados com Chico Science. Agora, mais enigmáticos e mais ruidosos ecoando pelo mangue chapadão. Muita fumaça no ar - do palco para a platéia e vice-versa. O público era adulto e sabia o que estava fazendo - fazendo a cabeça. E ninguém ia apontar o dedo em riste na cara de ninguém pra censurar, oprimir, fazer calar ou apagar o baseado. As alusões ao uso da erva são trabalhadas com cuidado pela Nação Zumbi pra não correr o risco de levantar bandeira Legalize It e não atrair jovens novos rebeldes ansiosos por uma causa fácil. BNegão (sem os Seletores de Frequencia) dividiu os vocais com Jorge Du Peixe em Macô (!) e Quando a maré encher - o público quase todo se abriu naquela roda esquisita e violenta mais comumente habitada por homens pois requer força e virilidade. Até eu que pensava ter me aposentado dei alguns socos e pontapés para me defender. Entre vários dreadlock e black power , havia um neoQuerelle bem altivo e um pouco hipster. E também Detlef Warhol. Detlef é um elemento misterioso - e talvez até fictício - que circula com pouca assiduidade pelos movimentos culturais da cidade de Belo Horizonte. Detlef é também um dos últimos junkies vilipendiados vivos neste BraZil. O que mais ficou na minha memória foi RisoFlora. Algumas pessoas choravam muito, outras sorriam abertamente, outras se beijavam, muitas cantaram junto bem alto como se os rapazes pudessem escutar lá do palco e algumas poucas pessoas como eu apenas fecharam os olhos tentando ser levados para a tal maloca na beira do rio. Mas quem esteve se beijando esteve mais próximo disto. texto . matheus só

13.12.05

trecho#4

"nação não é bandeira. nação é união. família não é sangue. família é sintonia." - marcelo yuka -

8.12.05

o anarquista

De maneira seca Carol me deu a notícia de que ele tinha morrido assassinado. Ela também sofria - eu advinhava. Abaixei o som da televisão, me afundei no sofá e pensei em como tudo se revelava distante e belo. Não me lembro de sequer um gesto vil da parte dele. Nenhuma ofensa. Nenhuma encaretação. Era bom, positivo e franco. Sobretudo sedutor. Ele era um sedutor das ninfas que enlouqueceram com o gosto de sua boca. Ele era um sedutor dos homens que meditaram ao som do seu silêncio. Morreu baleado pagando pelos seus erros. Pouco me importa se foram erros contra a lei. São erros e acertos que fazem a experiência de qualquer um. Se ele era um marginal? Sim, não fazia parte do mundo de vocês. Era forte e sincero mas não era rude nem convencional. Era um andarilho, um sonhador e um aventureiro. Quando bebia algo, sempre restavam algumas gotas enfeitando-lhe o buço. Sempre os dentes reluzindo num sorriso aberto, sempre as mochilas nas mãos e nas costas, a nuca queimada pelo sol, o sol iluminando o corpo e seus pelos e seus cabelos dourados, o suor a escorrer pela testa - ele o limpava constantemente com as costas das mãos. Muita luz. Muita paz. Assim eu me sentia ao lado dele. Tinha um contato profundo com a natureza, contato este que eu sei que nunca vou ter. Não. Ele não era um hipster. Ele, marcando em qualquer superficie pública a letra A composta de três riscos envolvidos por um círculo, era o anarquista de si mesmo. Sem moicano, sem maquilagem e sem Sex Pistols ele foi o anarquista de si mesmo e do mundo ao seu redor. E, anarquizando o cotidiano formado em torno de sua louca e nobre capoeira, enfeitou a sua própria vida e a vida de quem esteve ao seu lado de surpresa & coisas inesperadas. texto.matheus só em memória de rafael, amigo morto em meados deste ano.

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