"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

20.12.15

Vidas ao Vento


"O vento está aumentando. Temos que tentar sobreviver".


"O amor nos aquece, nos ilumina, nos alimenta e nos entorpece".



Muito raro, é claro, o amor terremotor. Tão idealizado e desejado que é quase impossível não fabricá-lo tão logo surja uma oportunidade, exclamando: isto é meu amor eterno! Ainda que não se tenha tanta certeza. É amor! E vai ser de qualquer jeito. Mesmo que não for. De tanto que se deseja. Por isto, também, deve ser experimentado em doses cavalares quando surge espontâneo. Às vezes surge, é verdade. Como saber? Vício é saúde quando dá prazer. Saúde sim, ainda que debilitada. Desfruta... O prazo é curto, bem sabes que tudo acaba.

Ser exigente é ser mau? Não necessariamente. Se for para atingir um objetivo... Um alvo... O que é mais importante: coisas ou pessoas? A resposta parece óbvia, não? Um objetivo é uma coisa. Pessoas são pessoas, não alvos.

Viver é calcular, persistir, errar, cancelar, resistir, modificar, acertar. Acertar? Não, talvez a vida não seja nada disto e não possa ser resumida. Vai ver é um contínuo desmanche para que haja reconstrução. Sem dúvida, viver também é morrer: vento lento e agradável, que refresca e se demora, ou vento voraz, feroz e fugaz, que tudo desarruma e logo vai embora.



imagem . Kaze Tachini, de Hayao Miyazaki, Japão, 2013
texto . Matheus Matheus,
com alusões ao filme que dá título ao texto, à Orlanda Travesta em O Zero Não é Vazio, de Marcelo Masagão, e ao Louis de Phillippe Garrel em O Ciúme.