"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

23.9.06

Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera!

Amar demais e cometer crimes em nome deste amor. Desejar tanto. Tanto. Esses golpes violentos ferindo a carne que antes ardia de desejo. Volúpia e medo. Ou só medo? Tanto sentimento dentro do teu corpo largo e quente. Tanto azul... Tanto rosa... E no fim das contas tudo se converte em escuridão. Homem, em qual estação te reconheces? Me diz como é a pedra amarrada ao teu coração que te comprime a ponto de te fazer sangrar. texto. matheus só imagem.Bom Yeorum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom, Coréia do Sul, 2003, 103 min., dir: Kim Ki-Duk, com: Oh Yeong-Su, Kim Ki-Duk, Kim Young-Mim, Seo Jae-Kyeong, Ha Yeo-Jin, Kim Jong-Ho, Kim Jung-Young

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21.9.06

o clube da felicidade e da sorte

as heranças véu de dores véu de delícias meio sorriso meio medo meio coragem cai e sem som se ergue frágil mesmo só o fino o coração rugas nas mãos aquecendo o mundo bravio amor materno é terno alívio a dor muda respeita a tradição mais ódio nunca será bom amor amor retrabalho serena batalha persistente o corpo delicado não fraqueja diante da invasão os cabelos finos não se embaraçam no olho do furacão os olhos oblíquos não se cerram assistindo à violência vem carícia vem melancolia e depois se vão tristeza é ocaso destino tratado beleza dura até mesmo essas lágrimas secarão no peito trancafiados uns segredos mesmo forte chora em silêncio se queima e cora há ventura se rebela à revelia da repressão ninguém rouba o que não sabe que existe sem fugir resiste não revela a não ser para o eu de dentro a força é menina bailarina por um fio gira com graça delicada dança segura vacilante em torno de si mesma espalhando serenidade ao redor texto . matheus só imagem . The Joy Luck Club, de Wayne Wang, EUA, 1993

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19.9.06

Lua e Cereja

Não basta apenas escrever sobre o que se acha. É preciso viver antes e escrever depois, se possível logo após, ainda sentindo o calor do que se acabou de experimentar. É preciso viver ao escrever, não se escreve sem estar-se vivo. Escrever o que se vive? Viver o que se escreve? Escrever para viver ou viver para escrever? Também é possível tentar escrever em meio ao grande caos, quando a coisa sobre o que se quer escrever está acontecendo. Mas isto pode ser muito confuso e até um tanto quanto enlouquecedor. As letras podem sair tão tremidas que depois nem serão decifradas. Mas certamente terão o calor do momento - não apenas letras frias sendo lidas num monitor. Quantas coisas perdemos enquanto escrevemos? Quanto deixamos de escrever enquanto não estamos escrevendo? Vivendo - vivenciando, experimentando, passando a limpo, cortando palavras, riscando frases, propondo outras palavras (como, por exemplo, escreviver. De quem é esta pérola? ESCREVIVER). O que é escrito sem vida não é lido. Também não é lido o que choca demais (vanguardista) como censas explícitas de cópula ou de ultraviolência já muito censuradas, muitas mesmo antes de irem para a tela, neste meu braZil varonil. Meu país é o país de Glauber: - Quanto custou Terra em Transe? Custou o preço do cinema brasileiro. Voltando ao cult-pink-indie-dark japonês... As coisas e as pessoas existiriam apenas para servirem de cobaias analisadas minuciosa e friamente pelos escritores? Quantos amigos os escritores perdem ao transformarem pessoas reais em personagens? Principalmente quando o foco inspirador não se identifica com a maneira que ele foi impresso na obra... Porque as pessoas sempre esperam um auto-retrato muito fiel à imagem que têm de si mesmas. Mas o que interessa ao escritor é sempre a maneira como ele sentiu ou a forma como ele que expor/subverter esta experiência - geralmente a forma que o artista acha mais belo... cada olhar um olhar. Nem todos os escritores são fotógrafos registrando um momento instantâneo, abanando a foto para ela secar. Alguns escritores não a esperam secar, borram a realidade e a jogam no papel ou na tela com crueza - em Teorema, de Pier Paolo Pasolini, a lata de tinta arremessada, vidros quebrados num contraponto à vida aos pedaços dos personagens. A grande homenagem que um escritor pode prestar à humanidade e às coisas é escrever sobre algo. Mesmo que escreva negativamente sobre esse algo, de certa forma é um tributo que este artista oferece para que o resto do mundo saiba que essa coisa o deixou embevecido ou contrariado; ou simplesmente para que o resto do mundo saiba que essa coisa existe e que ele a experimentou de algum modo. Incorpora ou distorce. Tem a liberdade de forjar um mundo mais belo ou mais louco. Abordar a probabilidade de outros finais felizes, não descartar a possibilidade de um filme sem final. Da forma que apenas o artista enxergou algo num ambiente que provavelmente tinha dezenas de outras pessoas que viram cada uma de sua forma a mesma cena. O grande crime é que o escritor conta a sua maneira enquanto os demais fazem dela um segredo. E contando, o escritor também impõe seu ponto de vista sem fazer muita questão de um direito de resposta de quem for ler. Bom é ter cuidado para que indo por essas linhas intermináveis ninguém se ofenda ou se machuque sendo usado para mais uma tese comportamental. texto . matheus matheus imagem . Lua e Cereja (Tsuki to Cherry, de Yuki Tanada, Japão, 2004)

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14.9.06

de olhos bem fechados

"Onde estivestes de noite? Ninguém sabe. Não tentes responder."

imagem . eyes wide shut (de stanley kubrick, EUA, 1999)

texto . clarice lispector

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