"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

30.11.06

gummo

Triste ocaso jogado aos mortais como brinde revoltoso da natureza. Perambular em jejum por esta terra esquecida pelo deus dos sem deuses.

Buscando uma chuva que seja choro, que seja beijo, que seja expor este animal morto. Segurá-lo pelo pêlo, apontá-lo para a lente: para estes espectadores estarrecidos e horrorizados pelo cotidiano da juventude. E o que te resta? Esta música estranha?

texto.matheus só

imagem.gummo

http://www.harmony-korine.com/paper/main/visuals.html http://www.finelinefeatures.com/gummo/

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29.11.06

crianças invisíveis

- Após presenciar a morte de seu amigo numa guerra desigual onde crianças se transformam facilmente em soldados, menino negro tem como missão colocar uma bomba numa instituição de ensino. Enquanto instala a futura explosão ele reflete sobre outras explosões que aconteceram anteriormente em sua vida e na vida dos que o cercam – explosões morais e materiais que o levaram àquela situação. Seria preferível que ele estivesse sentado num daqueles bancos aprendendo alguma lição menos cruel. - Filho de ciganos comete furtos e outros pequenos delitos para sobreviver. Este é o episódio mais leve do filme – é possível dar boas gargalhadas com o divertido coral e seu maestro desastrado. - A vida de Blanca é conturbada. Seus pais são junkies e soropositivos e o HIV parece ser a única herança que eles lhe legaram. Em casa, Blanca vive num ambiente carregado pelas constantes discussões e freqüentes picadas dos pais. Na escola, sofre preconceito das crianças saudáveis de corpo mas extremamente doentes de espírito. Tudo começa a piorar mais ainda quando Blanca se pergunta o que aconteceria se ela deixasse de tomar seus remédios. O amor surge do caos e do risco. - Nas ruas de São Paulo um casal de irmãos se vira da maneira que pode na esperança de comer batata frita no dia seguinte – a maior regalia que podem conceber. Tudo vai dando cada vez mais errado e eles se deparam com inesperados percalços para atingir seus objetivos. Trilha final de Tom Zé. - Conceituado fotógrafo traumatizado de guerra embarca numa viagem surreal revendo seus amigos de juventude volta a ser pequeno, encontrando outras crianças pouco felizes marcadas pela tristeza e pela dor reflete sobre o mundo, sobre a guerra, e sobre aquilo em que os homens se transformam quando crescem – tão diferente do que sonhavam quando pequenos. - No interior da Itália, jovem rouba pequenas preciosidades e as vende para o dono de um parque de diversões. Na hora de usar os brinquedos do parque, se sente tão cansado que nem brinca. Seu comparsa, também bem jovem, o chama: - Vem brincar! Deixa de ser criança... - Uma rica e jovem pianista joga no lixo sua boneca que não tem utilidade porque não tem com quem brincar. Um catador de lixo acha a boneca no mesmo lugar onde antes tinha achado um bebê e a entrega a sua filha adotiva. Estas são as sinopses dos sete episódios que compõem este mosaico melancólico sobre crianças de vários países que têm em comum a pouca idade e a batalha constante e diária pela sobrevivência. Todas estão envolvidas em guerras oficiais ou particulares, e de algum modo tentam superá-la. Cada episódio é (bem) dirigido por um diretor conceituado em seu país. É importante analisar cada episódio isoladamente, sem pretensões de escolher o mais bonito (todos são lindos esteticamente) ou o mais importante (todos são profundos ideologicamente), para depois compor na mente a conclusão geral que é de alerta aos que vivem (ou não) nestes países.
Imagem . All the Invisible Children, Itália, 2005, Direção: Mehdi Charef, Kátia Lund, John Woo, Emir Kusturica, Spike Lee, Jordan Scott, Ridley Scott e Stefano Veneruso
Texto . Matheus Só

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nó na garganta

I
A vida do garoto Francie é um rosário de desgraças: mãe perturbada e suicida, pai bêbado e violento, vizinhos cruéis que adoram humilha-lo. Mas este filme de Neil Jordan, o diretor de Entrevista com o Vampiro, está a anos-luz de um drama convencional: da fotografia naturalista à narração satírica, da violência terrível (e cômica) de Francie aos toques surreais (a cantora Sinéad O’Connor é a Virgem Maria que visita o garoto), ele é uma viagem vertiginosa e embriagante pela mente de um personagem que só a melhor ficção poderia retratar.

II

Francie é um menino que tem uma vida difícil: o pai é um alcoólatra que nunca traz dinheiro para dentro de casa, a mãe é uma viciada em calmantes com tendências suicidas e forte inclinação para a loucura e a compulsividade, os vizinhos o rejeitam por ser pobre e rebelde. Francie, então, busca refúgio em peraltices pouco ortodoxas para atingir o nível de fantasia de que precisa para não desperdiçar a infância. Foi extremamente coerente a decisão da distribuidora (que inicialmente tinha batizado o filme de “Fúria Inocente”) de trocar o nome para “Nó na garganta”. De inocente a fúria de Francie não tem nada. O título definitivo faz jus à grande maioria das cenas, pois não são raros os momentos em que o espectador engole seco – mas mesmo assim sem deixar de ter os olhos úmidos se for sensível. Repare no fino e cínico humor com que várias seqüências aniquilam certas instituições e ideologias. Repare também no delicado e nauseante lirismo que surge da comparação entre a raça humana e os suínos para acabar eclodindo num sonho alucinógeno e perturbador um pouco antes do desfecho. E algumas alusões à obra-prima-mor de Stanley Kubrick – como, por exemplo, a traição do melhor amigo. Desta vez são pequenos drugues com ultraviolências não menos contundentes que vão crescendo e se tornando cada vez mais horríveis - Porque? Responda! Porque? Aquela questão da reforma de uma pessoa que até agora não parece ter-se solucionado através de nenhuma vertente da sociedade. Redenção! Milagre! Salvação! Quanto conforto há nesses ópios populares... E o tom irônico como falam para fingir que são comuns... É como se dissessem: tudo está bem desde que finjamos que tudo está bem. Este Neil Jordan é bem mais polêmico do que em “Entrevista com o Vampiro”. E também bem menos comercial – desta vez no sentido literal da palavra “comercial”, já que o filme foi muito pouco visto nos cinemas. Aqui no BraZiL nem chegou a entrar em cartaz... Falar nisso, alguém por aí viu “Café da Manhã em Plutão”?

Imagem.The Butcher Boy, de Neil Jordan, Irlanda/EUA, 1997 Resenha (I) . Isabela Boscov Texto (II) . Matheus Só

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nascido para matar

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7.11.06

viagem ao mundo dos sonhos

Ethan Hawke é um garoto que vive sendo espancado pelos fodões da escola, mais velhos e burrolhonildos. Ficar sem comer porque teve o lanche roubado ou pisoteado para ele já é rotina. Independentemente disto, ele sonha em um dia poder ter para si o amor de Lori, a garota mais bonita e atraente de sua pequena vida. River Phoenix é um aspirante a cientista, amigo de Ethan, com pinta de guardar o grande segredo do universo. Primeiro inventa uma bolha fantástica capaz de fazer coisas incríveis – que deve ter servido de inspiração para Flubber.Depois cria uma nave caseira composta de partes de utensílios domésticos para realizar o sonho de fazer uma incursão ao espaço. Jason Presson completa o trio de púberes aventureiros, como um obsoleto amigo bobão. Juntos eles vão desafiar as leis da Física e partir rumo ao desconhecido. O que vão encontrar? Pode ser energia pura. Pode ser onda de pensamentos. Pode ser qualquer coisa que couber no sonho. Qualquer coisa que couber no espaço sideral. Porque tanto um quanto outro são infinitos. A grande questão do desafio que intriga a humanidade: ser o primeiro a pisar onde nenhum homem jamais esteve. E não é a lua, não. É marte. O filme possui inúmeras citações que são homenagens um tanto críticas, mas expostas de maneira divertida – poucos roteiros infanto-juvenis conseguem ser tão interessantes e inteligentes sem se perderem nem se confundirem em meio a tantas alusões. Algumas delas: Viagem ao Centro da Terra, 2001 – Uma Odisséia no Espaço, Fred Krueger, It, Planeta Proibido, Tarzan, MTV, Beatles, Além da Imaginação... entre outros, muitos outros. É surpreendente e emocionante ver uma dupla de atores tão belos e tão talentosos, juntos e jovens eternamente nesta fita, e que quando adultos tiveram destinos tão diferentes. Phoenix já partiu precocemente vítima da estrada pesada e difícil a qual se integrou: gay & junkie – por tristeza? por vocação? por destino? Talvez nem ele mesmo fosse capaz de responder. Hawke alterna bons projetos underground, fracassos de bilheteria e, eventualmente, um blockbuster para sobreviver. Os efeitos especiais do filme estão ultrapassados. Mas a ironia daqueles marcianos em relação aos terráqueos não. É sempre necessário fazer contatos intergalácticos para no final descobrir que a coisa com a qual os sonhos são feitos é bem brilhante e muito poderosa.
texto.matheus só sobre o filme Explorer, Viagem ao mundo dos Sonhos
imagem.river phoenix & ethan hawke (no filme e depois)

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2.11.06

conta comigo

When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No I won't be afraid, no I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me
And darlin', darlin', stand by me, oh now now stand by me
Stand by me, stand by me
If the sky that we look upon
Should tumble and fall
And the mountains should crumble to the sea
I won't cry, I won't cry, no I won't shed a tear
Just as long as you stand, stand by me
And darlin', darlin', stand by me, oh stand by me
Stand by me, stand by me, stand by me-e, yeah
Whenever you're in trouble won't you stand by me, oh now now stand by me
Oh stand by me, stand by me, stand by me
Darlin', darlin', stand by me, stand by me
Oh stand by me, stand by me, stand by me.
letra . Stand by me, de ben e. king
imagem . Stand by me, de Rob Reiner, 1986

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