A vida é um filme inverossímil

Por isso a ficção que se propõe realista ou naturalista [e se apoia em um enigma ou resolução de charada] parece cair na armadilha de ter que ser justo aquilo que a realidade não é: verossímil. Aquilo que vimos, ainda que fatos concretos, é apenas uma perspectiva e nunca pode ser chamada de realidade. Assim toda tentativa de mimetizar a "vida real" se fecha em esquemas lógicos que acabam entre uma firula vaidosa e um insulto à inteligência. Sem abertura e incompletude a obra vira um desconvite, um passatempo.
Não se trata de não saber o que se quer dizer na obra e entregá-la inacabada aos outros pra que a terminem mas de deixar que a poesia seja veículo da mensagem para que nela haja espaço suficiente para caber interpretações imprevistas. A realidade é inconclusa, e por isso só a poesia e suas lacunas é capaz de a espelhar. Esses espaços abertos pela poética generosa funcionam como espelhos imprevisíveis e igualmente generosos que fazem da obra de arte um oráculo. Eis a potência maior da arte: refletir de volta aquilo que demos à obra, o nosso olhar. E essa é a imagem mais oculta e impenetrável de nós mesmos. Assim podemos nos ver a distância e descobrir quem, a partir de então, já não somos.
A arte é um atalho para os oráculos da vida. Na poesia buscamos sentido porque acreditamos haver algum. Eis o que deveríamos fazer em relação à vida.
texto . Rodrigo Amarante
PEQUENO PERFIL DO CIDADÃO:
nome_Rodrigo Amarante idade_31 o que faz_Música, filmes quase mudos e gravuras o que fez_Artigo de Música música_Pombo Correio, de Moraes Moreira cidade_Rio de Janeiro filme_Sonhos, de Akira Kurosawa prato_Bacalhau à Gomes de Sá esporte_surfe
2 Comments:
amarante pierrô
até hoje num acredito que eu perdi aquele texto que eu fiz sobre ele
9:14 PM
sim, sim!
muito bom o texto!
amarante é foda!
já viu?:
http://www.youtube.com/watch?v=iypM6LKhB8o
6:28 PM
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