Colcha de Retalhos
Vento que traz e também que leva minha inspiração
Ao léu
Lento
E que movimenta a poeira dos dias corridos através dos móveis
E do chão que não precisa ser varrido
E que ouriça os cabelos da menina de óculos que não se penteia
Ou se penteia?
Qualé o pente?
Qualé o pente?
Vento que tira os farelos de alguma comida gostosa da barba do rapaz de olhos oceânicos e mãos quentes
E agita feito uma bandeira a camisa deste mesmo rapaz
Camisa estampada com os desenhos e as letras d'Eles
Vento que carrega as gentes mais desavisadas
E as avisadas também talvez quem sabe
E que espalha as folhas do meu livro pelas ruas da cidade
Livro que, com sombras e dúvidas, será públicado um dia
Fora de ordem
Faltando algumas páginas...
Não me infelicito com esta possibilidade
Bem sei que, na tentativa desesperada de fugir de certos maneirismos e clichês,
Sempre escrevi como um louco cineasta que juntando vários fotogramas,
Cada um de uma cena, cada um de um filme
Tenta entregar aos olhos do público
[Olhos estes que não são capazes de captar as imagens desconexas que lhes são apresentadas
E que, portante, não compreendem]
Toda a beleza dos melhores momentos de sua vida
Em um minuto
texto . Matheus Matheus
imagem . How to Make an American Quilt, de Jocelyn Moorhouse, EUA, 1995