"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

24.1.07

ASSOMBRAÇÃO URBANA com Roberto Piva

"Tudo o que chamam de História
é meu plano de fuga
da civilização de vocês"
(Roberto Piva)
O século XXI me dará razão, por abandonar na linguagem & na ação a civilização cristã oriental & ocidental com sua tecnologia de extermínio & ferro velho, seus computadores de controle, sua moral, seus poetas babosos, seu câncer-que-ninguém-descobre-a-causa, seus foguetes nucleares caralhudos, sua explosão demográfica, seus legumes envenenados, seu sindicato policial do crime, seus ministros gangsters, seus gangsters ministros, seus partidos de esquerda-fachistas, suas mulheres navio-escola, suas fardas vitoriosas, seus cassetetes eletrônicos, sua gripe espanhola, sua ordem unida, sua epidemia suicida, seus literatos sedentários, seus leões-de-chácara da cultura, seus pró-Cuba, anti-Cuba, seus capachos do PC, seus bidês da Direita, seus cérebros de água-choca, suas mumunhas sempiternas, suas xícaras de chá, seus manuais de estética, sua aldeia global, seu rebanho-que-saca, suas gaiolas, seus jardinzinhos com vidro-fumê , seus sonhos paralíticos de televisão, suas cocotas, seus rios cheios de lata de sardinha, suas preces, suas panquecas recheadas com desgosto, suas últimas esperanças, suas tripas, seu luar de agosto, seus chatos, suas cidades embalsamadas, sua tristeza, seus cretinos sorridentes, sua lepra, sua jaula, sua estricnina, seus mares de lama, seus mananciais de desespero. texto . "O SÉCULO XXI ME DARÁ RAZÃO"
(se tudo não explodir antes),
de Roberto Piva, Hora Cósmica do Búfalo, fevereiro/84 imagem . Assombração Urbana com Roberto Piva, de Valesca Canabarro Dios, Brasil, 2004 (docTV)

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5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Certamente, Roberto Piva é um grande poeta. Mas talvez sua poesia deva mais à pessoa (Piva, o transgressor) do que à sua poética. Piva copia muito, sem dialogar. César Vallejo e outros. Ademais, deve-se dizer que Piva sempre concedeu muito à cidade de São Paulo e seu esquema de vida: sem Masao Ohno, filho de general, como Piva faria estripulias nas madrugadas da ditadura? O próprio Piva se vangloria de sua esperteza, de ter "costa-quente". Ele preciava de costa-quente para ser um libertino: legal, vou arrumar um amigo batuta para quebrar vidraças e sair na maior. Então estamos acertados: continuamos na mesma, vivendo na sombra da asa de alguém, escrevendo uns versos, e damos a isso o nome de poeta marginal. Ele foi, sim, um professor da rede pública e possuía certa erudição: muitos outros, sem a mesma rede de relações, eram tão ou mais eruditos que ele, que nunca esteve à margem. Sim, Piva nunca se marginalizou: ingenuidade acreditar que ele tenha sido, alguma vez, poeta marginal: nós é que lhe demos este título, por não querer conferi-lo aos verdadeiros marginais.
Márcio, Vila Zatt

1:41 PM

 
Blogger Matheus Só Matheus said...

Caro Márcio,
Obrigado por ter batido o recorde do meu blog!!! O maior comentário!!!
Para mim, a questão não é nem se o Piva é poeta, ou marginal, ou escritor... a questão é que a postura amarga dele em relação a indústria de consumo e demais artefatos pós-modernos revelada neste doc me fascinou de tal maneira que corri atrás da obra dele. E adorei.
Marginal eu sou, pois ninguém comenta neste blog! Marginais só eu e Jean Genet.

força sempre

mat
heus

6:24 PM

 
Blogger artuzo said...

Opa, vou entrar nessa discussão!
Não entendi o que o primeiro sujeito, o Márcio, quis dizer com "marginal". Disse que Piva não é e nunca foi marginal, e argumentou comentando que ele só fazia estripulias porque tinha "costa-quente". Pois bem, a questão da marginalidade em Piva está na sua obra e se resume nessa máxima: "todo poeta é marginal, desde que foi expulso da república de platão".
O Márcio, para provar que Piva não é marginal, relacionou essa marginalidade à sua "pessoa" e não à sua "persona". Na verdade, não interessa se Piva tem "costa-quente" ou se é o sr. Burguês; seu caráter marginal deve ser analisado somente pelos seus poemas, caso contrário cairemos naquele biografismo antiquado que Barthes já demolira há 40 anos. Acho também que o camarada Matheus disse mais ou menos isso no seu comentário.
A propósito, você é marginal mesmo, todos somos, inclusive o Piva e o Márcio, pois fazemos parte de uma minoria ínfima nesse país que debate e reflete sobre as artes e, particularmente, sobre poesia.
Mas continue firme, irmão!

Abraço,
Artuzo

1:05 PM

 
Blogger Matheus Só Matheus said...

Comentou neste blog, é marginal! Que bom que este post tá dando pano pra manga!

7:52 PM

 
Anonymous Avessada said...

Homenagem ao Piva aqui no Rio. Alguns trabalhos serão exibidos. Data:20/10 Local: Odeon_Cinelândia

Ainda somos imargináveis, rapazes, acreditem. Seguro-me dizer que somos um quase-bando de marginais.
E que cabeças sejam derretidas e oferecidas aos deuses sem deus.

O avesso eu bebo num copo (duplo) de discórdia com tudo isso aí temperando o meu (di) sabor.
i.bala

12:16 PM

 

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