"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

9.4.10

Aos Nossos Amores

A adolescente bonita que só se sente feliz na companhia de algum dos variados e belos rapazes com quem se relaciona, paradoxalmente, sempre os abandona. Quer ser amada, efetua a sedução, consome-se no ato consumado, no fato consumando-se. E depois, sequência previsível, os descarta. Nem adianta correr atrás. Ela não quer repetir o que já teve antes. Busca o inédito - avidez fatal e necessária. Ou simplesmente quer variar de prato ao invés de ter que provar sempre o mesmo alimento. Enjoaria. Ou então, não quer praticar o senso-comum de amor do mundo civilizado- fidelidade a um parceiro fixo.
Certa vez Van Gogh disse... Ou disseram que ele disse, mas, de qualquer forma, faz um sentido enorme no contexto de vida dele. "A tristeza durará para sempre." O que será que ele estava querendo dizer com isto? Que sua tristeza individual de artista incompreendido duraria até depois de sua morte através explêndida genialidade do conjunto de sua obra. [OU] Que os tristes eram os outros, os que fingiam alguma alegria de vida para tentarem se adequar a algo a que na verdade não desejavam se submeter. O mundo em si, para Van Gogh, era lindo e perfeito. A tristeza eram as pessoas que nele habitavam.
O cinema de Pialat não tranquiliza. É um sol noturno, urbano, libertário, libertino e filosófico. Faz o espectador se remexer na poltrona, mudar o ritmo da respiração a cada cena. Incomoda. Grita, se debate. Arde, transpira, chora, sangra e, principalmente, goza.
imagem . À Nous Amours, de Maurice Pialat, França, 1983 esboço de ensaio . Matheus Matheus