"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

17.2.08

diabo no corpo

Saiu do cinema extasiado, com a mesma sensação de torpor e embevecimento de quem acaba de dar vazão a um prazer gozoso.
Querendo dividir as imagens vertiginosas que tinha visto, como a da cena em que a mulher, serva (in)fiel de Baco, se embebeda e gira em torno de si numa dança sedutora. Querendo dividir estas imagens vertiginosas com o maior número de pessoas, indicou o filme aos conhecidos, aos amigos e aos familiares.
Muitos deles aceitaram a sugestão, compraram avidamente suas entradas abarrotando as salas de cinema nas quais o filme estava sendo exibido. A pose culta do rapaz fazia com que confiassem demais no seu afiado senso cri-crítico de cinéfilo, supostamente apurado, de comentários quase sempre insuportáveis de tão ácidos e precisos.
Mas, desta vez, ia ser diferente... A surpresa: nenhum dos indivíduos a quem ele tinha recomendado o filme sequer reconheceu ser a película pornocult ao menos digna do preço quase nulo do ingresso. O preço do ingresso era o tempo esperdiçado.
texto . matheus matheus
imagem . Il Diavolo in Corpo, de Marco Bellocchio, Itália, 1986

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