buffalo ´66
Billy, olhos azuis prostrados olhando para as garrafas dispostas em três fileiras a serem derrubadas, suor grudando a camisa listrada em preto & cinza ao corpo, tira as botas cor-de-sangue, ajusta a meia preta calorenta, põe o protetor na mão direita, se concentra, dando força a si mesmo, lustra a bola de boliche, penetra-a com dois dedos. Leila, sombra azul nas pálpebras, brilho labial alaranjado, sente calor, despe-se do casaco de Billy e dobra-o com doce afeto. Toda volúpia de seu corpo se volta para o ser amado, que segue adiante com passos firmes, rumo à pista, com os sapatos em branco & preto próprios para o chão escorregadio. Billy não erra muito e comemora espalhafatosamente. Até que o maquinário emperra. Enquanto Sonny conserta o equipamento que dispõe as garrafas, Billy espera impaciente. Leila, de meias azuis e sapatilhas cintilantes, se distrái sapateando ao som de uma melodia melancólica que só toca dentro de sua cabeça, à luz do holofote do imaginário. Billy ordena que ela fique quieta e perde uma, apenas uma, das muitas jogadas que tinha pela frente. E esta que ele perdeu significa para ele muito mais do que todas as outras que ele acertou. Esta derrota é a que o destrói e o desanima. Leila acha graça e tenta a sorte. Acerta e comemora. Billy vira a cara para seu próprio azar e vai dar um telefonema. Leila continua jogando - agora que derrubou todas as garrafas brancas pela primeira vez em sua vida começa a se interessar cada vez mais por boliche e por vitória. E Billy? Quando vai aprender o sapateado?
imagem . Buffalo ´66, de Vincent Gallo, EUA, 1998
texto . Matheus Matheus
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