Cartas do Deserto (Elogio à Lentidão)
Entregar cartas de casa em casa. Em cada envelope uma esperança.
Que às vezes se desfaz - notícia de morte.
Que outrora se refaz - reza que deus manda a pensão.
Simão de Ray Ban no deserto. Cartas demoram mais a chegar e custam mais caro do que SMS. Mas o preço aparentemente mais barato pode ser mais alto do que se imagina. Perder a graça da espera pode não ser uma evolução. Tudo rápido demais pode ser uma desventura irreversível.
Como desacelerar sem pifar? Como ter o olhar mais virgem sendo bombardeado continuamente por tanta informação inútil?
Retardar as coisas para que elas façam mais sentido - ser a rampa que abriga o skate vazio e o corpo do skatista caido no chão. Ser chuveiro antes de chacina.
Mover-se na vida com a mesma delicadeza de gestos dum ator num filme mudo. Lentidão significa leveza, alteza. Maior sabedoria. Viver de contemplação. Voar sem medir tanto os passos, sem olhar tanto o relógio.
Além do outdoor e das exigências do mercado, além da nuvem negra salpicando o céu azul e amarelo, passarinhos cantam sobre as antenas de câncer da telefonia celular. E se depender de mim, cantarão cada vez mais alto.
texto . matheus matheus com alusões à Waly Salomão, Gus Van Sant, Humberto Gessinger e Luis Buñuel
imagem . Letters from the Desert (Elougy to Slowness, de Michela Occhipinti, Itália/Índia, 2010
1 Comments:
Indie Fetivla?! hahaha
2:19 PM
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